Os protestos nos EUA pela morte de George Floyd, homem negro asfixiado por um policial branco, refletem duas realidades distintas e bem tristes. A primeira é que a violência policial é um problema em todo o mundo, mas no país presidido por Trump não apenas a truculência é força motriz para uma abordagem policial. Lá, eles notam primeiro sua cor, atiram (em alguns casos pra matar) e só depois perguntam.
Se você tem se incomodado com as cenas que rodaram o mundo e se compadeceu pela com o último suspiro de Floyd enquanto o policial branco desdenha de sua privilegiada posição, parabéns! Você se colocou no lugar de milhares de homens negros e pôde ver, mesmo que por segundos, como é se sentir totalmente impotente diante do preconceito, da maldade e hipocrisia.
Mas o caso de Floyd não foi o primeiro e nem será o último. A violência contra o homem preto vai continuar por muito tempo. O que me incomoda mais do que tudo isso é a falta de empatia do brasileiro com os desmandos que acontecem aqui, em nosso quintal. Enquanto tivermos como base para indignação apenas os exemplos de fora, quantos mais irão morrer aqui dentro para despertamos?
A polícia daqui é bem diferente dos EUA. Lá, os agentes de segurança passam por rigorosos processos formação. E ainda assim matam homens pretos como um cão sarnento. Aqui, após ser aprovado em concurso público dão um arma na mão e colocam a lei na outra e o direito de matar sem perguntar é cumprido.
Mas a violência policial vai além de atirar e depois perguntar. Ela está implícita em outra situações constrangedoras que apenas quem já passou por isso sabe. E não faltam exemplos. Vão desde o temível “baculejo” até o desdém de quem procura chama uma viatura e tem a ocorrência minimizada pelo senso comum classificar violência doméstica como algo “comum”.
A revolta da comunidade afro americana é legítima. Carros, casas e estabelecimentos comercias incendiados, centenas de presos, mortos. Nada disso vai trazer de volta a dignidade de um povo marginalizado há séculos.
Se aqui no Brasil tivéssemos protestos como esse, por exemplo, após a morte do garoto João Pedro Matos Pinto de 14 anos, colocaríamos para os homens brancos que estão no poder e nada fazem, o valor de vidas negras e o quanto elas importam.
“É assim que começa. A febre, a raiva, o sentimento de impotência que transformam homens bons em cruéis…”
Por Denilson Avelino, jornalista e cientista político.
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