Em um novo ataque que pode tensionar ainda mais os conflitos no Oriente Médio, o Irã acusou nesta segunda-feira (1º) as Forças Armadas de Israel de bombardear a Embaixada do Irã em Damasco, na Síria, e matar seis pessoas, entre elas um dos chefes da tropa de elite iraniana.
Além de colocar Israel e Irã cara a cara pela primeira vez desde o início da guerra entre o governo israelense e o Hamas na Faixa de Gaza, o ataque, se confirmado, também é o primeiro em que Tel Aviv alveja um alto comando iraniano.
Israel não havia se manifestado sobre a acusação até a última atualização desta reportagem.
Segundo a mídia iraniana, um dos mortos no ataque desta segunda é o general brigadeiro Mohammad Reza Zahedi, um comandante sênior da Guarda Revolucionária do Irã -- uma espécie de braço de elite das Forças Armadas iraniana, ligada à ideologia do regime de Teerã e que se reporta diretamente ao líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei.
Em 2006, Zahedi foi nomeado pelo próprio Khamenei como comandante da Guarda Revolucionária. Ele chefiou as operações aéreas e, depois, as terrestres da força militar.
Atualmente, segundo o serviço de inteligência de Israel, ele integra as Forças Quds, a unidade de elite e inteligência da Guarda Revolucionária -- em janeiro, o Irã também acusou o Exército israelense de ter atacado um prédio em Beirute, no Líbano, e matado cinco membros das Forças Quds baseados na cidade.
Ainda de acordo com o serviço de inteligência israelense, Zahedi coordena as operações de ajuda que o Irã envia frequentemente ao Hamas -- Desde antes da guerra entre Israel e o Hamas, o governo do Irã, xiita, já vem financiando grupos da mesma seita, como o Hamas e o Hezbollah.
Uma reportagem do jornal "The New York Times" também aponta o general iraniano como o responsável pelas operações secretas do Irã na Síria e no Líbano.
Caso confirmada, a morte pode desencadear uma tensão ainda maior no Oriente Médio -- além de grandes rivais, Irã e Israel são as duas maiores potências da região.
Não é novidade que Israel alveje instalações militares iranianas na Síria. Mas o ataque desta segunda, caso a autoria do Exército israelense seja confirmada, é o primeiro de Tel Aviv contra um alto comando iraniano.
E coloca Israel e Irã cara a cara pela primeira vez desde o início da guerra entre o Exército israelense e o Hamas na Faixa de Gaza, que gerou uma série de outros pequenos conflitos no Oriente Médio.
O ataque de segunda-feira, caso a autoria de Israel for confirmada, será também a primeira vez que uma instalação diplomática do Irã é atingida.
Entenda o que é a Guarda Revolucionária do Irã
A Guarda Revolucionária foi criada para proteger o clero iraniano após a revolução xiita no país, em 1979. A ideia era contrabalancear o poder das forças armadas regulares com uma outra instituição militarizada.
A entidade é subordinada ao supremo líder do país, o aiatolá Khamenei.
Hoje, são cerca de 125 mil homens com exército, marinha e unidades aéreas. Além disso, a Guarda Revolucionária comanda um grupo paramilitar voluntário que, com frequência, é usado para dispersar manifestações contra o governo e também uma milícia religiosa, a Basij. De acordo com os analistas, o número de voluntários da Basij é de cerca de 1 milhão.
Forças Quds
As Forças Quds são o braço da Guarda Revolucionária especializado em duas atividades:
Espionagem em outros países.
Relação com grupos paramilitares e milícias em outros países do Oriente Médio, como Líbano, Iraque, Iêmen e Síria.
Houve dois momentos no passado recente da Síria em que as Forças Quds estiveram presentes:
Membros das Forças Quds defenderam o presidente Bashar al-Assad na guerra civil da Síria.
Eles também lutaram contra o Estado Islâmico tanto na Síria como no Iraque.
Em 2020, os Estados Unidos mataram com um ataque de drone o principal comandante das Forças Quds, o general Qassem Soleimani.
Os EUA classificam a Guarda Revolucionária como um grupo terrorista.
Qual é o poder da Guarda Revolucionária?
De acordo com especialistas em Oriente Médio, a Guarda Revolucionária supervisiona o programa de mísseis do Irã, que é tido como o maior na região.
A guarda tem também muito equipamento tradicional de combate, que foi usado nos conflitos na Síria e no Iraque.
Conflitos espalhados no Oriente Médio
Após o início da guerra entre Israel e o Hamas, em outubro de 2023, o Oriente Médio -- região que abriga países de uma faixa entre o leste do Mediterrâneo até o Golfo Pérsico -- vive uma teia de conflitos interligados entre si e em escalada sem precedentes na história moderna da região.
A invasão do Hamas ao sul de Israel, em 7 de outubro de 2023, quando o grupo terrorista sequestrou centenas de pessoas e matou 1.404, é a origem da nova onda de conflitos na região.
O governo israelense, como esperado, respondeu com intensos bombardeios à Faixa de Gaza, que já mataram cerca de 24 mil pessoas até esta quarta-feira (17), segundo o governo local, controlado pelo Hamas.
As primeiras manifestações de fora vieram do Hezbollah, grupo rebelde do Líbano financiado pelo Irã e que foi criado com o objetivo de destruir o Estado israelense. Desde outubro, o Hezbollah vem fazendo ataques no norte de Israel, com o intuito de defender o Hamas e tenta desestabilizar as tropas israelenses, concentradas na Faixa de Gaza, no sul.
Semanas após o início da guerra, o Exército israelense começou a interceptar mísseis lançados pelos Houthis, grupo rebelde do Iêmen e financiado pelo Irã.
Aos poucos, os Houthis foram ganhando mais protagonismo no conflito. Rebeldes do grupo vêm atacando navios cargueiros do Ocidente que passam pelo Mar Vermelho, o único ponto de entrada e saída por mar de Israel além do Mar Mediterrâneo. Já foram mais de 20 ataques a navios de diferentes países.
Em retaliação às ações dos Houthis, EUA e Reino Unido entraram oficialmente no conflito em 12 de janeiro, bombardeando mais de 60 alvos do grupo rebelde no Iêmen, inclusive na capital do país, Sanaa.
Em retaliação, os Houthis dispararam um míssil de cruzeiro antinavio contra um destróier da Marinha dos EUA no fim de semana, mas o artefato foi interceptado, e voltaram a atacar navios.
Ainda em janeiro, os EUA mudaram a classificação dos Houthis, agora considerados grupo terrorista pelo país.
Em paralelo, Israel começou a contra-atacar para além da Faixa de Gaza e diz ter matado membros do alto escalão do Hezbollah e do Hamas no Líbano. Um desses ataques ocorreu na capital do Libano, Beirute. O governo libanês, que até então não havia entrado no conflito, culpou Israel e prometeu retaliação.
O Irã já participava dessa teia de conflitos indiretamente, através do financiamento ao Hezbollah, ao Hamas e aos Houthis. Mas, depois das ações dos EUA e do Reino Unido, Teerã quis dar uma demonstração de força e fez três ataques.
Dias depois, o Exército iraniano lançou mísseis contra alvos na Síria e no Iraque, alegando estar destruindo bases do Mossad, o serviço de inteligência de Israel. E, na terça-feira (16), bombardeou no vizinho Paquistão - cujo governo é apoiado pelos EUA - bases do grupo rebelde Jaish al Adl. Teerã alega que esse grupo é financiado por Israel.
Fonte: G1.com
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