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Caso Marielle: Quem vigia os vigilantes ou terrível sensação de impunidade no Brasil

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Impossível viver neste país e não sentir um terrível sentimento de impunidade desde o anúncio pelo Ministério da Justiça sobre quem foram os mandantes do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes. Passei o dia com um nó na garganta, uma sensação de tristeza e injustiça como se tivesse algum tipo de parentesco com Marielle. Seis anos depois, enfim, vem à tona a resposta para a perguntar feita milhares de vezes: Quem mandou matar Marielle? E diferente de uma novela escrita por Walcir Carrasco, o final desse enredo foi mais previsível do que se imaginava. Afinal, nos últimos anos os nomes dos irmãos Frazão sempre foram vinculados ao crime, mesmo que a grande mídia nunca admitisse e o que aqueles que chegavam próximos à solução do caso, foram removidos ou “pularam” fora temendo pela própria vida.

E mesmo que a família de Marielle e Anderson tenham conseguido a reposta para a pergunta citada cima, esse caso não termina aqui, pois externa de maneira cruel como o poder paralelo tomou conta do Rio de Janeiro e como age para se manter impune diante da cega Justiça. Quando olhamos para o histórico dos envolvidos, percebemos o que há de mais podre na política e se formos um pouco mais inteligentes, percebemos que a morte de Marielle e Anderson vai além da execução de uma vereadora “sem grande representatividade”, mas com que conseguia fazer muito barulho.

Se a máfia (sim, MÁFIA! Esse negócio de milicia é apenas um adjetivo encontrado para minimizar a corrupção enraizada que está ligada a ex-militares e outros agentes) é organizada o bastante para eleger vereadores, deputados estaduais e federais, ter um Conselheiro no Tribunal de Contas, comprar um delegado de polícia que foi pago não apenas para cobrir a execução, mas também planejar a morte de Marielle, o que podemos esperar? Se operam em níveis constitucionais, tem aval do Estado que falha miseravelmente em garantir o mínimo. A morte de Marielle tomou proporção internacional e por isso não foi esquecida, mas a ideia de seus mandantes era que este caso caísse no esquecimento.

O questionamento que faço é simples: Quantos morreram antes (e depois) e tiveram seus casos encerrados e esquecidos para imperar a Justiça da Máfia? Respondo: não há como fazermos esse cálculo, pois seguramente as contas passam de milhares. Mas como contornar uma situação como essa, visto que o poder paralelo se confunde com o Estado e em casos específicos como as favelas é até o que único vigilante com suas próprias leis? Não existe resposta se não uma varredura minuciosa em todas as instâncias, mas como fazer isso se aqueles que criam as regras do jogo são os que nos vigiam?

A verdade é que perdi a fé no Estado há muito tempo. Não vejo saída em um país onde os mandantes de uma execução são os mesmo que se sentam na cadeira de investigador, acusados, defensor e dão a própria sentença. Então, termino esse texto novamente fazendo meu papel enquanto jornalista e questionando mais uma vez: Quem vigia os vigilantes?

Denilson Avelino é Diretor-geral do Portal Oxen
Jornalista e Cientista Político.

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