Neta de agricultores de Simões, município de 15 mil habitantes que faz fronteira com o estado do Pernambuco, Lana Krisna de Carvalho Morais perdeu o pai ainda muito cedo, tinha apenas 13 anos e foi criada (junto com dois irmãos: Anderson (mais velho) e Larissa Herta (mais nova) com muito amor e sob o olhar atento de sua mãe, Dona Ivonethe Carvalho de Morais, hoje professora aposentada de Geografia. De família grande e protagonismo feminino muito forte, Lana Krisna sempre mostrou vocação para a escrita e comunicação. E desde cedo, com o exemplo em casa, entendeu que apenas a educação seria o caminho para sua transformação pessoal e profissional. “Minha mãe se esforçou ao máximo para que pudéssemos estudar, mesmo com todas as dificuldades para criar três filhos sozinha”, explica. Para muitos, 2023 será apenas mais um ano, mas para essa jovem professora, 2023 é a celebração de uma trajetória de sucesso que começou ainda em 2007, quando era estudante de Jornalismo e que sempre foi apaixonada pelo sertão piauiense com suas nuances e contrastes. No total, foram três aprovações:
- 1 ° lugar geral no Doutorado em Comunicação da Universidade Federal do Ceará (UFC);
- 1° lugar geral no Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Ceará (UFC);
- 1° lugar na linha Mídias, Linguagem e Processos Sociopolíticos do Doutorado em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Jornalista raiz, com questionamentos e observações sobre a forma como o jornalismo, local e nacional, se referia ao sertão nordestino, algo inquietação o coração de Lana Krisna ao ler (e ver) que essa região do Piauí (e de outros estados) sempre foi apontado como um espaço marcado pela pobreza por conta da seca.
“Ainda criança, quando acompanhava minha mãe nas aulas de campo do curso de Geografia, que foi ofertado pela Uespi em Simões, aprendi sobre semiárido, desertificação, estiagem e outras questões ambientais e sociais que impactavam o nosso sertão e aquilo sempre me chamou atenção. Quando comecei a atuar como jornalista, me deparei com esses impactos, mas de outra maneira, vendo de perto a pobreza e desafios de se viver no semiárido, mas ao mesmo tempo com as possibilidades e riquezas inexploradas”, explica.
Em 2015, já atuando como professora, ela decide se aprofundar sobre esta temática, com o objetivo de contribuir com a formulação de discussões mais aprofundadas sobre a região semiárida do Piauí. “Através desse trabalho, conseguimos a implantação de duas disciplinas voltadas para o estudo da comunicação no semiárido, que debatiam sobre as características deste território rico e complexo, das políticas públicas, tecnologias e educação contextualizadas as características locais”, disse.
Desde então, a professora Lana Krisna vem desenvolvendo projetos, realizando pesquisas, produzindo artigos, publicando livros e participando de eventos ao lado dos alunos, expandindo o debate sobre a comunicação e semiárido em diversas áreas: no jornalismo, cinema, no esporte, comunidades quilombolas, protagonismo feminino no sertão, energias renováveis e outras áreas.
Como passar em um doutorado?
Em entrevista ao Portal Oxen, Lana Krisna deu algumas dicas para quem deseja seguir a carreira acadêmica e assim como ela, ingressar em um doutorado ou mestrado. “Eu já estava cursando disciplinas como aluna do DINTER em Comunicação, certamente essa experiência contribuiu para o aprofundamento teórico-metodológico dos projetos submetidos nas seleções. O processo de preparação foi desafiador, visto que foram três projetos distintos, mas todos relacionados ao semiárido, além das leituras específicas de cada programa. Outro passo importante foi estudar bem as linhas de pesquisa, visando alinhar os projetos aos objetivos dos doutorados”, elencou.
Dicas da pesquisadora:
- Estudar detalhadamente cada edital;
- Pesquisar os possíveis orientadores e como poderia alinhar meu objeto de estudo;
- Estudar os textos indicados em cada programa e desenvolver os projetos;
- Organizar toda documentação de títulos e se preparar para as etapas com provas, defesa dos projetos ou arguições.
Paixão pelo semiárido
Não é novidade pra ninguém que ao longo de décadas, o semiárido nordestino tem sido pauta de inúmeras reportagens que mostram apenas o lado ruim da região. É como se o crônico problema da seca fosse uma sentença de vida medíocre e hostil para seus moradores, mas Lana Krisna pensa diferente e viu na universidade a oportunidade que faltava para desmistificar o sertão piauiense como um lugar de miséria e sem oportunidade, fortalecendo estereótipos e preconceitos.
Por isso, Lana Krisna acredita que é necessário ressignificar o nosso pertencimento ao semiárido, para isso, precisamos conhecê-lo, com suas riquezas, possibilidades, oportunidades e desafios. “Precisamos entender que o sertão é um lugar viável, mas precisamos fazer uso de tecnologias apropriadas às características naturais, políticas públicas que dialoguem com a realidade, educação contextualizada, também precisamos que que imprensa se aprofunde sobre essa temática, para que não continue reproduzindo discursos de “lugar castigado”, mas problematize sobre a origem e causa dos desafios enfrentados pela população do sertão”, afirma a pesquisadora.
Com a admissão nos três doutorados, a professora vai aprofundar ainda mais seus conhecimentos e ampliar suas linhas de pesquisa. As três aprovações me deixaram muito feliz e são frutos de muito esforço, abdicações, especialmente do apoio da minha família, de forma especial da minha mãe, que é professora e muito cedo me ensinou a olhar para o meu lugar a partir de suas riquezas e possibilidades. Espero honrar cada esforço e trazer válidas contribuições para o meu Piauí”.
Questionada como esse feito vai refletir em outras pessoas, principalmente da universidade, Lana é enfática ao afirmar que atualmente tenho muitos alunos e ex-alunos seguindo por essa área, desenvolvendo pesquisas na graduação, mestrados ou doutorados que trazem resultados diretos para transformação do nosso sertão. “Foram sementes plantadas que atualmente estão rendendo bons frutos. O jornalismo é um pilar para sociedade e está sempre em transformação. É necessário que o jornalismo seja capaz de dialogar com os mais diversos públicos, ajudar na compreensão da realidade. Não podemos aceitar que a imprensa seja uma ferramenta de construção de estereótipos, ranço contra o sertão, disseminadora de preconceitos, precisamos ressignificar o nosso pertencimento ao nosso espaço, essa ressignificação passa pela educação contextualizada, acesso às políticas públicas, tecnologias, pelo e jornalismo e conteúdos produzidos sobre o sertão”, finaliza.
Quem é Lana Krisna de Carvalho Morais?
Natural de Simões-PI é formada em Jornalismo (Faculdade R.Sá, onde foi docente e coordenadora do curso entre 2014 e 2023), com especialização em Assessoria de Comunicação e Jornalismo Digital, em Docência do Ensino Superior e Metodologia da Pesquisa, Mestre em Educação pela Universidade de Pernambuco (UPE). Professora efetiva do curso de Jornalismo da UESPI desde 2018. Detém experiências profissionais em TV, jornais, portais, assessoria de comunicação, Web TV e pesquisa cientifica.
Comentários (0)
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião desta página, se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.
Comentar