Floriano é uma cidade com 62 mil habitantes que ainda precisa evoluir sobre a causa LBGT. E diferente de outros municípios onde a diversidade sexual é acolhida, ainda são poucos os locais onde esse público se sente à vontade para frequentar. Dadas as devidas proporções e circunstâncias, a sociedade civil, entes públicos e privados ainda não deram a devida importância de homens, mulheres, idosos, casais, profissionais e negócios que fazem parte do cotidiano da cidade e não precisam mais se esconder para provar o gosto da liberdade. Na reportagem especial de hoje, vamos trazer alguns desses perfis que quebraram o tabu e seguem suas vidas conquistando espaços e lutando por respeito. Duas delas são Eliza e Rebeca, jovens mulheres lésbicas que em meio ao preconceito sexual, ainda precisaram superar o preconceito referente a diferença de idade. Também conversamos com designer gráfico, Rafael Bezerra, profissional consolidado com trabalhos prestado para multinacionais e que nas horas vagas atua como DJ no projeto Triplo X. Outro entrevistado do Oxen foi o jovem comunicador e assessor de imprensa Werlley Barbosa que deixou os preconceitos para traz em busca da sua felicidade e realização de sonhos.
Os dados divulgados pelo IBGE da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) - Quesito Orientação Sexual realizada em 2019, apontam que cerca de 2,9 milhões de pessoas se declararam homossexuais ou bissexuais no país, o que corresponde a 1,8% da população adulta, maior de 18 anos. Já 1,7 milhão não sabia sua orientação sexual e 3,6 milhões não quiseram responder. Baseados nestes dados, fazendo um cálculo empírico é possível afirmar que Floriano com uma população de 62 mil pessoas, tem uma média de 800 a 1000 habitantes que se declaram homossexuais/bissexuais.
Nesse contexto, o Portal Oxen traz alguns perfis da população LGBT em Floriano. Começando pelo casal Eliza e Rebeca. Eliza é enfermeira, natural de Floriano e tem 34 anos. Já Rebeca é estudante de Letras e tem 22 anos. Elas se conheceram através de amigos em comum e hoje moram juntas. "Foi uma questão de praticidade, eu já morava sozinha e ela dividia apartamento com amigas então a convidei para morar comigo, como ela já era assumida e eu também, não enfrentamos dificuldades, nem resistência dos nossos pais, temos uma boa relação com nossas famílias”, explica Eliza Ferreira. Mais reservada na demonstração de afeto, Eliza acredita que esse comportamento faz parte de uma geração que demorou a "sair do armário". Diferente de sua parceira que vem "de outra geração" mais tolerante e que não vê problemas em demonstrar carinho. Mas a enfermeira relata que mesmo com todos os avanços já foram alvo de comentários maldosos e olharem intimidados. "Aconteceu em um restaurante, mas nada grave, não fomos atacadas. Mas incomoda. Isso varia de lugar para lugar. Já fizemos viagem romântica e nos hospedamos em uma pousada e fomos tratadas com muito respeito e simpatia", diz.
Nascido em Barão de Grajaú, Rafael Bezerra, é Deejay, designer gráfico e produtor cultural, o nome por trás do projeto TriboX, amante da música eletrônica e suas vertentes e que sempre apresenta um conceito visual em seus shows com apresentações irreverentes. O artista costuma dizer que é metade piauiense, metade maranhense, também faz parte de outros projetos que movimentam a cena cultural de Floriano com a produção de eventos voltados para o público alternativo. Há 8 anos na profissão de Designer Gráfico, Rafael já coleciona vários projetos que estampam outdoors e espaços da nossa cidade, além de ser responsável por campanhas publicitárias até para multinacionais. Na cena musical já participou da Produção de Videoclipes de artistas independentes e é um dos "cabeças" por trás dos eventos como a Festa Frida, Apimentada Dark e outros selos de sucesso das produtoras Frida Produção e Apimentada Produções. Rafael vê no seu trabalho a importância de manter quente o cenário alternativo de Floriano e procura estar envolvido em projetos sociais que atuam diretamente com a luta da comunidade LGBTQIAPN+.
Werlley Barbosa é um jovem comunicador e assessor de imprensa, estudante de Jornalismo. Aos 20 anos, ele tem plena consciência da importância de ocupar espaços enquanto homem LGBT. Natural da zona rural de Itaueira-PI, ele afirma que desde de que “se entende como gente”, como diz lá no interior, sofreu com o preconceito e a discriminação por ser uma criança diferente das outras (de olhar açucarado). "Fui repreendido diversas vezes por falar fino e andar rebolando. Eu chorava muito! Evitava falar e andar", disse. Mas a repreenda deu a esse jovem sonhador a força que precisava para focar em um futuro melhor. "Sempre fui uma criança inconformada com tudo a minha volta: a falta de oportunidades, de cultura, diversão e acesso a uma educação e saúde de qualidade. Desde muito cedo entendi que eu precisava fazer algo para contribuir com minha comunidade. Só a educação transformaria a minha vida". Aos 12 anos, arranjou o primeiro emprego em uma pequena farmácia de Itaueira. Aos 13, começou a promover festas juninas, criar grupos de jovens e realizar diversos eventos, em busca de dar visibilidade a minha comunidade.
Em 2017, aos 14 anos, veio morar em Floriano-PI onde cursou o ensino médio no Instituto Federal do Piauí. "Sem o colo da minha família foi difícil! Eu quis desistir, mas persistir", explica. Werlley relata também que até tentou incorporar um "personagem hétero". Um ano depois, cansado de viver uma farsa, se olhou no espelho e entendeu que era hora de falar a verdade, para si e para os outros. "Fui contando que eu era gay para meus amigos, minha irmã e pessoas que me sentia seguro. Criei minha rede de apoio. Colegas de sala de aula, professores e funcionários dos mais diversos setores do IFPI, minha segunda casa, foram essenciais no meu processo de autoconhecimento. O tempo foi passando e eu já respirava aliviado. Tive o apoio da minha mãe e dos meus irmãos. Eu estava vivendo a minha verdadeira identidade", relata.
Depois de muitos percalços, hoje morando sozinho e sendo dono da própria história, Werlley diz que apesar de tudo, continua muito otimista e resiliente, pois tem um propósito de vida. "Me encontrei na comunicação, a partir do curso Técnico em Rádio e TV. A comunicação passou a fazer parte do meu dia a dia e ser fonte de renda. Sou apaixonado pelo Jornalismo! Estudo sempre". Em 2021, se tornou assessor de comunicação parlamentar do vereador Carlos Eduardo Kalume e coordenou a campanha de comunicação do médico e suplente de deputado estadual, Marcus Vinícius Kalume. "Foi um divisor de águas. A criança tímida, reprimida e invisível que fui um dia, comecei a construir pontes sólidas e ser reconhecida pelo seu trabalho. Eu tenho orgulho de ser quem eu sou, eu tenho muito orgulho de ser gay", finaliza.
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