2020 foi um ano atípico para todos. Um ano em que aprendemos a importância da convivência familiar bem como o cuidado redobrado com aqueles que amamos. Para proteger, tivemos que nos afastar. Esse novo normal que ainda estamos tentando nos acostumar, sem dúvida, deixará marcas em toda uma geração. Mas se um vírus, um organismo invisível fez com que o mundo inteiro ficasse de ponta cabeça e, se além dos efeitos adversos da doença como tosse, dor e falta de ar não fosse o bastante, especialista são unanimes em afirmar que o pior de uma pandemia mundial que mudou os costumes de toda a humanidade em poucos meses, será o efeito colateral psicológico de todos nós.
E se antes já tínhamos que lidar com os problemas corriqueiros do cotidiano seja no trabalho ou na família, a ansiedade cronificada e outros transtornos de psicológicos como depressão, foram potencializados por conta da pandemia.
Em Floriano, assim como no restante do mundo, essa situação não é diferente. Pais de família perderam seus empregos, casais se separaram, jovens colocaram em dúvida seu futuro por não entender qual futuro teriam e por aí vai. Basta conversar com alguém pra perceber que essa é uma realidade de todos e por menor intensidade que tenha chegado para alguns, não houve quem não tivesse sido arrematado pelos efeitos colaterais causados pela Covid-19.
Tema ainda considerado tabu, mas que não há como fugir. Todos os anos, 800 mil pessoas no mundo comentem alguma tipo de atentado contra a própria vida. Cada morte assim afeta, em média, 135 pessoas ao redor. Daí chegamos ao número mais trágico ainda: mais de 108 milhões de pessoas são afetadas por mortes por suicídio todos os anos. Essa situação varia muito de local, mas nessa reportagem vamos nos focar a Floriano, a Princesa do Sul.
Na primeira quinzena de dezembro, ocorreram três suicídios na cidade. O primeiro dia 7 de dezembro e outros dois dia 14. Todos do sexo masculino e com idades entre 23 e 44 anos. Em 2020, oito pessoas cometeram atentados contra a própria vida. O número, se comparado a população total da cidade é baixo, mas se compararmos os dados de 2019 e 2020, chegaremos a um aumento de 50% nos casos de suicídio em Floriano. Ou seja, em 2019 ocorreram 4 casos dessa natureza. Em 2018, o número foi menor. Três casos. Os dados são oficiais, oriundos da Diretoria de Epidemiologia do município.
Mas existe uma explicação para esse aumento? A psicóloga Rosa Batista explica que primeiro devemos entender que o suicídio é um evento complexo e com múltiplos fatores, por isso, seria pouco responsável apontar o período de pandemia como fator crucial para esse aumento. “São fatores e fatores e o motivo pelo qual essas pessoas chegaram a essa decisão pode ter ocorrido muito antes da pandemia”, disse.
Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), a pandemia da COVID-19 poderia aumentar os fatores de risco para suicídio. A coordenação sugere que as pessoas devam falar abertamente e de forma responsável sobre o assunto. A ideia é que, mesmo com o distanciamento físico, as pessoas permaneçam conectadas com familiares e amigos e aprendam a identificar os sinais de alerta.
O coronavírus está afetando a saúde mental de muitas pessoas. Estudos recentes mostram um aumento da angústia, ansiedade e depressão, especialmente entre os profissionais de saúde. Somadas às questões de violência, transtornos por consumo de álcool, abuso de substâncias e sentimento de perda, tornam-se fatores importantes que podem aumentar o risco de uma pessoa decidir tirar a própria vida.
Outro dado curioso a se destacar na pesquisa realizada pelo Portal Oxen é que em 2020, dos oito casos de suicídio ocorridos em Floriano apenas um foi do sexo feminino. A morte aconteceu em março e a mulher tinha 84 anos. Ou seja, o perfil suicida é majoritariamente masculino, mas as idades variaram entre 17 e 44 anos.
Em 2019, todos os quatro casos eram do sexo masculino com idades entre 22 e 60 anos. Em 2018, o fator se repete: três casos, todos do sexo masculino com idades entre 26 e 46 anos.
Sinais de alerta de suicídio
Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), a maioria dos suicídios é precedida por sinais de alerta verbais ou comportamentais, como falar sobre: querer morrer, sentir grande culpa ou vergonha ou sentir-se um fardo para os outros. Outros sinais importantes são sensação de vazio, desesperança, aprisionamento ou falta de razão para viver; sentir-se extremamente triste, ansioso, agitado ou cheio de raiva; ou com dor insuportável, seja emocional ou física. A psicóloga Alcione Garcia afirma que é preciso estar atento aos sinais. "Familiares e amigos devem observar a mudança de comportamento de reserva, principalmente, quando se está passando um momento difícil como perca de emprego, separação ou luto", explica.
Além disso, mudanças comportamentais, como fazer um plano ou pesquisar maneiras de morrer; afastar-se dos amigos, dizer adeus, distribuir itens importantes ou fazer testamentos; fazer coisas muito arriscadas, como dirigir em velocidade extrema; mudanças extremas de humor; comer ou dormir muito ou pouco; usar drogas ou álcool com mais frequência. Todos estes podem ser sinais para um possível suicídio.
Como prevenir o suicídio
O suicídio pode ser evitado, sim! A nível pessoal, a detecção precoce e o tratamento da depressão e dos transtornos por uso de álcool são essenciais para a prevenção do suicídio, bem como o contato com pessoas que já tentaram o suicídio. O apoio psicossocial nas comunidades é muito importante para o aconselhamento nesses momentos. A recomendação é procurar ajuda de um profissional de saúde o mais rápido possível.
A mídia também pode ajudar quando fornece informações verdadeiras e adequadas sobre o assunto, além de reduzir o estigma associado à procura de ajuda psicológica.
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Você pode conversar com um voluntário do CVV ligando para 188 de todo o território nacional, 24 horas todos os dias de forma gratuita. Você é atendido por um voluntário, com respeito, anonimato, que guardará estrito sigilo sobre tudo que for dito e de forma gratuita. Os voluntários são treinados para conversar com todas as pessoas que procuram ajuda e apoio emocional.
Reportagem e pesquisa: Denilson Avelino
Consultoria: Psicólogas Rose Batista e Alcione Garcia
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