"Não existe anjo preto". A frase até hoje emociona Elineuza Ramos, professora e um dos maiores nomes da cultura e movimento negro piauiense, que ouviu a repreenda quando era uma garotinha. "Ganhei o papel para ser um anjo no Auto de Natal. Fiquei tão feliz, mas aquele sonho logo se tornou um trauma. Com o anúncio de uma autoridade política vindo assistir a apresentação, fui rebaixada a narradora do espetáculo. Nem aparecer iria", explica. Mulher preta, de luta, Elineuza conta que ao saber que não seria mais o "anjo", questionou a decisão e teve uma resposta que mudaria pra sempre sua vida. "A professora me pegou pelo braço, levou na igreja e saiu mostrando e dizia: 'Não existe anjo preto! Você está vendo alguma anjo preto?. A professora afirma então que mesmo chorando, avistou uma imagem de São Benedito e se apegou ao santo negro. "Eu apontei e disse que aquela imagem (de São Benedito) era escura, mas assim mesmo ela (a professora) respondeu: Mas não é anjo". A partir de hoje você confere alguns relatos da vida de homens e mulheres pretos da nossa cidade em um especial em alusão ao mês da Consciência Negra.

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